quarta-feira, 5 de outubro de 2011

CARTA ABERTA À COMUNIDADE ESTUDANTIL DA UFU SOBRE A CALOURADA-UFU (2º SEMESTRE DE 2011).


O conjunto de Centros e Diretórios Acadêmicos que assinam este documento vem tornar público sua posição contrária aos métodos anti democráticos no qual a Calourada desse semestre foi construída pela atual gestão do DCE “Agora só Falta Você”, composta pelos grupos políticos UJS e Kizomba. Um método que exclui a construção coletiva e “atropela” o debate.
Acreditamos que é função do DCE e do conjunto de entidades representativas dos estudantes, construir uma calourada capaz de apresentar esta nova realidade que é a vida universitária, através do olhar dos próprios estudantes. As Calouradas organizadas pelo DCE, D.A´s e C.A´s costumam ser momentos marcantes na trajetória de um estudante universitário e não podemos ser coniventes com posturas que transformam este espaço em apenas um evento festivo que serve para conexão do Triângulo Music. Onde estão os espaços que realmente expressam a vivência universitária na sua riqueza de debates políticos e culturais?
 
Adeus à Calourada?
Seja você estudante ou trabalhador da UFU, provavelmente já participou, participa ou, pelo menos, ouviu falar da Calourada.
É de se esperar, no entanto, que este evento seja percebido por muitos de vocês como um grande festival comemorativo, que reúne milhares de pessoas para “celebrar”, com muita música, bebida e liberdade, cada novo ciclo semestral, caracterizado principalmente pelo ingresso de novos indivíduos na vida universitária: os calouros.
No entanto, a Calourada não é só festa, embora tenha sido esta a tendência dos últimos anos. Tentaremos então explicar as principais questões que você precisa saber sobre este evento e esperamos que você possa se posicionar de alguma maneira.
O que é, ou deveria ser, a Calourada?
A Calourada é um momento que deve expressar a dimensão cultural dos indivíduos que compõe a universidade através de suas festas e comemorações, mas também é espaço de elaboração e reflexão de idéias, uma oportunidade de se pensar a relação da universidade com os indivíduos que estão dentro e fora dela. Afinal, qual deve ser o objetivo da universidade se não o de promover conhecimento útil à sociedade que a criou?
É um dos primeiros momentos em que o estudante, que acaba de ingressar em seu curso, começa a se familiarizar com o ambiente acadêmico, cultural e político oferecido pela Universidade, portanto, deve ser muito mais do que uma simples jornada de festas e álcool, deve mostrar que a juventude tem disposição para superar o divertimento puro e simples, e combater todas as concepções que nos tornam tão velhos quanto burros, e que nos privam da liberdade.
Além disso a elaboração, a organização e a execução da Calourada deve ser uma tarefa dos próprios estudantes. Perder o controle sobre essa responsabilidade significa perder a capacidade de pensar com coerência e autonomia as necessidades mais relevantes ao universo estudantil. Infelizmente é isso que vem acontecendo na UFU em vários aspectos, inclusive na Calourada.

Como é feita a Calourada?
Tradicionalmente, nas Universidade Públicas, a Calourada é construída pelas organizações estudantis. Estas organizações representam diretamente os alunos de um determinado curso, que são os Centros Acadêmicos (CA) e Diretórios Acadêmicos (DA), que por sua vez são organizadas por uma entidade estudantil central, o Diretório Central dos Estudantes (DCE).
Estas entidades devem decidir conjuntamente a maneira como a Calourada deve ser feita, e o resultado desta construção deve contemplar tanto as demandas específicas dos estudantes e de seus cursos, quanto as demandas comuns a todos os estudantes no geral. É por isso que, embora não seja tão explícito, o nome adequado da Calourada é Calourada Unificada, já que é o somatório da organização cooperativa entre os DAs, CAs e DCE.
Além disso, o teor político, acadêmico e cultural do evento deve expressar uma concepção crítica da realidade, trazendo um debate que seja atual e ao mesmo tempo próximo aos estudantes, para que estes possam refletir e contribuir com toda a comunidade acadêmica e comunidade externa através das atividade realizadas no evento, que são mesas redondas, debates, oficinas, palestras, mini-cursos, intervenções artísticas, shows musicais, etc., de modo a oferecer um contraponto às tendências que inserem questões importantes para os indivíduos num senso comum geral e banalizante.

O que mudou na última Calourada?
Infelizmente muita coisa mudou, pra pior. Primeiramente não podemos mais considerar como uma Calourada Unificada.  Isso porque o DCE, composto por um grupo político hostil a várias demandas do movimento estudantil crítico e combativo da universidade, insiste em tomar as decisões mais importantes, desconsiderando o debate das outras entidades estudantis e deliberando ações contrárias a todas as concepções históricas e representativas de Calourada que mencionamos anteriormente.
Além disso, os últimos dois anos na UFU foram marcados pela tentativa da reitoria de acabar ou, pelo menos, enfraquecer os eventos culturais dentro da universidade. Isso gerou uma forte mobilização dos estudantes, que conseguiram, apesar de muito desgaste, impedir que as festas fossem proibidas e, mais ainda, conseguiram propor e aprovar um documento que além de autorizar as festas, cria critérios e normas para sua realização.
Mas isso não foi suficiente para resolver o problema das festas, embora tenha sido uma contribuição fundamental do movimento estudantil. O grande desafio dos estudantes passa agora a ser a capacidade de realizar eventos que sejam qualitativamente distintos daqueles que são promovidos de maneira comercial pela cidade de Uberlândia e região. Eventos estes que tem uma orientação de mercado, cujo princípio primordial é a lucratividade em detrimento de uma cultura realmente emancipatória.
Eventos de natureza comercial vinham acontecendo com freqüência na UFU, e o desdobramento disso foi o lamentável caso de violência ocorrido durante uma festa no dia 26 de agosto em que um jovem foi espancado por vários outros, resultando, em virtude disso, na suspensão temporária dos eventos em todos os campi da universidade. Esta situação impõe a nós estudantes a responsabilidade de repensar a forma e o conteúdo das festas, de modo a qualificá-las, para que todos vejam que a universidade pública ainda é um lugar referenciado culturalmente, onde a criatividade e a inteligência resistem à imposição quase industrial de valores, concepções e modos de vida totalmente distorcidos.

Como está sendo construída a atual Calourada?
 Neste semestre, em virtude da situação de suspensão das festas, que mencionamos anteriormente, a Calourada é o evento que deve reinserir a rotina de eventos festivos na UFU, portanto deve ser o parâmetro a ser adotado para as futuras festas. Isto significa que qualquer ocorrência grave pode prejudicar a permanência deste tipo de confraternização na UFU, acarretando a proibição definitiva das festas.
Com esta responsabilidade estavam os DAs, CAs e DCE quando tiveram de planejar a Calourada, no entanto, não houve respeito por parte da direção do DCE, composta pelos grupo político-partidários UJS (PCdoB) e KIZOMBA (PT), em relação tanto à orientação de qualificar as festas, quanto de definir o teor político e cultural da Calourada.
Isso significa que a Calourada UFU 2011 - 2º Semestre, é uma construção unilateral, antidemocrática, excludente e extremamente rebaixada do ponto de vista político-cultural. Para demonstrar a completa negligência da direção do DCE resgataremos algumas informações importantes.

Um histórico sobre os fatos:
No dia 13 de Junho de 2011 foi realizado um CONDAS (Conselho de Diretórios e Centros Acadêmicos) no qual houve a deliberação que no dia 26 do mesmo mês haveria uma nova reunião para discutirmos a Calourada 2011/02, para que essa fosse feita de modo democrático, respeitando a construção coletiva com as demais entidades e estudantes. Esta reunião, entretanto,  proposta para o fim do mês de Junho, nunca ocorreu, sendo a próxima reunião realizada apenas no dia 02 de  setembro .
Nesta reunião foi acordado entre todos os DA’s e CA’s em conjunto com o DCE que a temática da Calourada deste segundo semestre focaria a Universidade Pública: trabalho, assistência estudantil e acesso, englobando temáticas como as greves dos trabalhadores em educação, a campanha pelos 10% do PIB para a educação pública e as problemáticas vivenciadas pelos estudantes no âmbito da vida universitária. A gestão do DCE propôs que a Calourada ocorresse entre os dias 21 e 24 de setembro, menos de duas semanas após a reunião do conselho. Com esta data, as entidades e grupos e teriam apenas três dias para apresentarem propostas fechadas de atividades, condicionando a divulgação das mesmas para o conjunto de estudantes da universidade em outros três dias restantes antes da realização da Calourada (conforme informe de próprios representantes do DCE quanto aos prazos dos serviços gráficos).
Os DA’s e CA’s presentes na reunião em totalidade argumentaram sobre a impossibilidade de se organizar uma atividade no curto prazo de tempo que incluiria o fim de semana e a ineficácia de uma divulgação de três dias que também incluiriam um fim de semana. A gestão do DCE mostrou-se fechada em ceder qualquer modificação na data, argumentando a preocupação de que a Calourada não coincidisse com o Triângulo Music e o Festival da Canção da UFU, e a necessidade de que esta abarcasse cinco dias de festas. As entidades representativas, em tentativa de apresentar uma solução que estabelecesse consenso entre todos os interesses, propuseram que a Calourada ocorresse entre os dias 3 a 7 de outubro. A proposta de data foi votada, tendo apoio de todos os DA’s e CA’s que se posicionaram, entretanto o DCE, de maneira autoritária, simplesmente se posicionou que não acataria a decisão do CONDAS. Nos perguntamos: onde está a “democracia” que eles afirmaram existir?
A partir da indignação das entidades e grupos de estudantes com a situação, a data da Calourada, foi na semana seguinte, adiada para 28/09 a 02/10. Em CONDAS realizado no dia 23 de setembro, o DCE apresentou o material de divulgação da Calourada, onde os DA’s e CA’s perceberam claramente o desrespeito por parte da gestão do DCE com a temática e eixos de discussão deliberados no primeiro CONDAS de Calourada (o panfleto traz tema e eixos totalmente diferentes dos que foram acordados), a inexistência de divulgação das atividades realizadas pelos DA’s, CA’s e grupos de estudantes e a vinculação de patrocínio de empresas que incluem uma marca de cerveja, sem que isso tivesse sido apresentado para discussão no CONDAS.

Por que esta Calourada não nos representa?

1) A forma de ingerência em que a calourada foi construída, não priorizando uma construção coletiva. Praticamente a proposta do DCE foi colocada para o conjunto de D.A´s e C.A´s "goela a baixo" sem margem para nenhuma proposição; nos restringindo apenas a proposição das atividades elaboradas pelas próprias entidades e organizações estudantis a moda do "cada um em seu quadrado". Muitas das deliberações do CONDAS não foram acatadas e foram atropeladas;

2) Pelo não concordância com o projeto político da calourada. Percebe-se claramente o projeto político da calourada expresso pela atual gestão do DCE (UJS/KIZOMBA) em que prioriza em sua divulgação atividades festivas que inclusive vai na contra mão das discussões acumuladas sobre o assunto do caráter cultural das atividades festivas, suas finalidades, etc. Além disso as atividades dos D.A´s e C.A´s colocam-se como secundárias na divulgação não incorporando-se ao principal material gráfico do evento;

3) Pela não concordância com a temática. A temática da calourada foi no mínimo, distorcida, uma vez que o objetivo escrito no material de divulgação anuncia que a principal questão da calourada é discutir a "expansão" que o  REUNI proporcionou para os jovens no sentido positivo do projeto. Isso não foi consenso no CONDAS e não foi a temática deliberada que estava relacionada ao Trabalho, assistência estudantil e acesso a universidade pública.

4) Pela não concordância sobre as formas de financiamento. A calourada está vinculada a uma rede de patrocínio relacionada ao setor privado que inclusive transforma o evento em uma espécie de conexão Triângulo Music, oferecendo promoções de ingressos e outras premiações. Por trás dessa conexão está o grupo Algar/CTBC. Isso descaracteriza a nossa calourada como uma atividade do Movimento Estudantil para os estudantes e feita por estes. Isso é dar abertura para o reino da mercadoria dominar tanto em seus signos quanto também na ideologia e formas de retorno financeiro veiculadas a propaganda gerada no evento. Acreditamos que isso não condiz com os objetivos de uma universidade pública. Lembrando também que existe o patrocínio de uma empresa de cerveja que ajuda o avanço moralista de uma crítica aos estudantes em que somos tachados como os apologetas da alcoolemia.

Uma outra Calourada é possível!
Acreditamos que é função do DCE e do conjunto de entidades representativas dos estudantes construir uma calourada capaz de apresentar esta nova realidade, que é a vida universitária, através do olhar dos próprios estudantes. As Calouradas costumam ser momentos marcantes na trajetória de um estudante universitário e não podemos ser coniventes com posturas que transformam este espaço em apenas um evento festivo que serve para conexão do Triângulo Music. Onde estão os espaços de debates que realmente expressam a vivência universitária na sua riqueza de debates políticos e culturais?
Precisamos nos contrapor à tendência massificante e alienadora que tem caracterizado as Calouradas, principalmente nas universidades particulares, e que agora tem atingido a própria UFU, tornando o espaço público num lugar do marketing e do business. Um retrocesso histórico tanto para o movimento estudantil quanto para a Universidade Pública como um todo.

Centro Acadêmico de Ciências Sociais
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Diretório Acadêmico de Gestão em Saúde Ambiental

5 comentários:

  1. Tenho 28 anos, a anos vou nas callouradas da ufu..nunca vi essa calourada cultural com atividades e palestrantes. Só bebidas.dragas e alcool.

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  2. Isso me cheira o pessoal do psol pentelhando a gestão...

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  3. Não subestime a capacidade autônoma e crítica de 14 entidades representativas dos estudantes para rebaixar em uma análise plana e superficial, uma caracterização dessas. Na verdade o cheiro é de anti democracia que desrespeita as instâncias legítimas do ME da UFU perpetrada pela atual gestão do DCE.

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  4. Bem, Guts.. vc está vendo só o que quer ver. Eu acompanho a calourada há mto tempo tb e sei bem que nela acontecem shows, bebidas, drogas e uma semana de palestras, atividades e discussões. Não precisa acreditar em mim, mas é bom procurar informação antes de falar bobagem.

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  5. Uma curiosidade: o panfleto da calourada foi aquele que a CTBC estava distribuindo ou tinha outro?

    A calourada do meio do ano é sempre mais fraca. A desse ano nem foi divulgada direito e só agora entendi o porquê. Parabéns pela iniciativa.

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